N A Q U E L A S
segunda-feira, 23 de janeiro de 2012
Passa pelo corredor
e olha de soslaio
no quarto o filho
o filho e a tela
a tela cheia e vazia
cheia de informação
vazia de sentimento
Passa reto e vai pra sala
limpa o pigarro
acende o cigarro
viaja ao passado.
Lembra do quarto
da cama, da chama
a cara suja de terra e lama
e a mão cheia de barro
olhando pro pai sentado
de rosto vermelho
tomando velho barreiro.
Um barulho na alpendre
e volta ao presente
não muito contente
mas é o que tem pra hoje
felizmente ou...
infelizmente.
e olha de soslaio
no quarto o filho
o filho e a tela
a tela cheia e vazia
cheia de informação
vazia de sentimento
Passa reto e vai pra sala
limpa o pigarro
acende o cigarro
viaja ao passado.
Lembra do quarto
da cama, da chama
a cara suja de terra e lama
e a mão cheia de barro
olhando pro pai sentado
de rosto vermelho
tomando velho barreiro.
Um barulho na alpendre
e volta ao presente
não muito contente
mas é o que tem pra hoje
felizmente ou...
infelizmente.
quinta-feira, 19 de janeiro de 2012
segunda-feira, 9 de janeiro de 2012
Ela vai te apertar o cabelo entre os dedos, arranhar suas costas e morder os seus lábios. Você irá coloca-la de joelhos e mãos no chão. Em um certo momento você vai começar a abandonar seu próprio corpo. É só então que você vai notar aquela foice gigantesca no canto do quarto. Vai notar as longas e negras vestimentas atiradas pelo chão e o capuz pendurado na cabeceira da cama. Aí amigo você irá se lembrar que disseram que flertar com ela seria perigoso. Aí meu amigo... meu pobre amigo, por mais que o sol esteja brilhando na sua janela, aí será tarde demais pra você.
segunda-feira, 2 de janeiro de 2012
Meu quarto em chamas, você ao pé da minha cama. Seu cabelo cinza. Te vejo com grandes asas. Vejo fogo nos seus olhos. Asas fechadas, braços abertos. Sem poder me controlar pulo pra te abraçar. Queimo abraçado às suas pernas. Minhas lágrimas evaporam, viro pó e acordo. Olho pro pé da cama, viro de lado, o quarto está gelado.
Vermelho e preto.
Atrás dele eu vejo um pôster pendurado na parede, o pôster que ele me deu quando completamos um mês de namoro. É da nossa banda preferida e que também toca a “nossa” música, você sabe, todo casal tem uma. Lembro de quando ganhei esse presente, e agora estou prestes a ganhar outro, um tiro na garganta.
- Este vai ser o presente de um ano de namoro - é o que ele repete aos berros sem parar.
Malditos momentos em que temos uma escolha para fazer e escolhemos errado, ou que decidimos agir pela nossa tão superestimada intuição feminina em vez de ouvir outra pessoa. Um amigo, um familiar, um mendigo.
Não é a primeira vez que erro, é óbvio, mas é a primeira vez que um erro chega nesse tipo de situação.
Ele sempre foi carinhoso e calmo, e eu nunca o imaginei coçando o nariz assim repetidas vezes com esse puta revólver nessa puta mão que mais parece uma puta com parkinson. E afinal, de onde ele tirou esse revólver? Como uma pessoa que você acha que conhece tão intimamente pode mudar tanto? Como um fim de relacionamento pode chegar a tal ponto? Como alguém que vivia com flores que cheiravam vida na mão pode portar agora um ferro com esse cheiro forte de morte. Como podem surgir tantos questionamentos de uma vez?
Enfim, eu devia estar pensando em outras coisas. Estes não parecem ser os pensamentos de alguém com um cano gelado enfiado na boca enquanto lágrimas escorrem por todo o rosto. Acho que deveria estar pensando na família, pessoas que amo, sei lá, algo parecido.
Lá fora só se ouve sirenes e o burburinho dos curiosos. A janela fica vermelha e preta, vermelha e preta, vermelha e preta. O pôster fica vermelho e preto, vermelho e preto, vermelho e preto. O rosto dele, transfigurado e suado, vermelho e preto, vermelho e preto.
- Você é meu pretérito perfeito – disse, beijando minha testa.
Acho que chegou a hora. Você nunca sabe quando é a hora, só imagina que é a hora.
O tempo para.
Silêncio.
O ferro já não está gelado.
O tão célebre silêncio que precede o esporro.
E finalmente.
Pronto.
Esporra-se. Mas não na minha cara e sim na dele. Os policiais invadem pela janela, aquela que continua ficando vermelha e preta e pela qual veio o som do esporro e dos vidros quebrando.
Caído aos meus pés com o semblante de puro prazer eu o vejo com um buraco do lado esquerdo da cabeça. Não consigo pensar. Preciso colocar as idéias em ordem. Preciso. Preciso ficar calma e pensar. Mas acho que agora tenho tempo para isso. Agora tenho tempo para isso. É, eu tenho bastante tempo. Tenho todo o tempo do mundo. Afinal, acabo de perceber que ele também não errou, acabo de entender toda a libido daquele rosto.
Ele também chegou lá.
- Este vai ser o presente de um ano de namoro - é o que ele repete aos berros sem parar.
Malditos momentos em que temos uma escolha para fazer e escolhemos errado, ou que decidimos agir pela nossa tão superestimada intuição feminina em vez de ouvir outra pessoa. Um amigo, um familiar, um mendigo.
Não é a primeira vez que erro, é óbvio, mas é a primeira vez que um erro chega nesse tipo de situação.
Ele sempre foi carinhoso e calmo, e eu nunca o imaginei coçando o nariz assim repetidas vezes com esse puta revólver nessa puta mão que mais parece uma puta com parkinson. E afinal, de onde ele tirou esse revólver? Como uma pessoa que você acha que conhece tão intimamente pode mudar tanto? Como um fim de relacionamento pode chegar a tal ponto? Como alguém que vivia com flores que cheiravam vida na mão pode portar agora um ferro com esse cheiro forte de morte. Como podem surgir tantos questionamentos de uma vez?
Enfim, eu devia estar pensando em outras coisas. Estes não parecem ser os pensamentos de alguém com um cano gelado enfiado na boca enquanto lágrimas escorrem por todo o rosto. Acho que deveria estar pensando na família, pessoas que amo, sei lá, algo parecido.
Lá fora só se ouve sirenes e o burburinho dos curiosos. A janela fica vermelha e preta, vermelha e preta, vermelha e preta. O pôster fica vermelho e preto, vermelho e preto, vermelho e preto. O rosto dele, transfigurado e suado, vermelho e preto, vermelho e preto.
- Você é meu pretérito perfeito – disse, beijando minha testa.
Acho que chegou a hora. Você nunca sabe quando é a hora, só imagina que é a hora.
O tempo para.
Silêncio.
O ferro já não está gelado.
O tão célebre silêncio que precede o esporro.
E finalmente.
Pronto.
Esporra-se. Mas não na minha cara e sim na dele. Os policiais invadem pela janela, aquela que continua ficando vermelha e preta e pela qual veio o som do esporro e dos vidros quebrando.
Caído aos meus pés com o semblante de puro prazer eu o vejo com um buraco do lado esquerdo da cabeça. Não consigo pensar. Preciso colocar as idéias em ordem. Preciso. Preciso ficar calma e pensar. Mas acho que agora tenho tempo para isso. Agora tenho tempo para isso. É, eu tenho bastante tempo. Tenho todo o tempo do mundo. Afinal, acabo de perceber que ele também não errou, acabo de entender toda a libido daquele rosto.
Ele também chegou lá.